Decolonialidade e arquitetura | Talks by LEIVA #20
Como incorporar e valorizar a brasilidade nos nossos projetos?
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LEIVA 3 anos
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Você já ouviu falar em pensamento decolonial?
Vamos começar contextualizando brevemente o que significa essa palavra.
Todos nós sabemos que o Brasil por muitos anos foi colônia de Portugal, que explorava nosso território (pau-brasil, cana de açúcar, ouro…). E embora em 1822 nosso país tenha conquistado sua independência política, a herança dessa colonização jamais nos deixou.
Afinal, é isso que o colonizador faz: traz consigo os seus costumes, tradições e regras e os impõe aos povos originários da colônia. Com o tempo, o colonizado entende que precisa seguir esses padrões para conseguir fazer parte dessa sociedade.
Segundo Frédéric Mauro, as escolhas da população por incorporar-se ao padrão trazido pelos colonizadores é a "vontade de diferenciar-se do escravo negro e até do índio, de guardar o selo da Europa, da civilização, (...) marca de um complexo de inferioridade inconfesso e inconfessável em relação ao europeu".
Toda a base da nossa arquitetura, desde a fundação das cidades, até a localização e a forma de implantação foram feitas a partir dos interesses e preceitos Portugueses.
Quem lembra quando falamos no Talks #15 sobre a chegada da família real no Brasil e como isso transformou as construções brasileiras? Todos queriam ter uma fachada neoclássica, que em nada se relaciona com a cultura brasileira, porque os portugueses trouxeram esse estilo como a arquitetura do império, da civilização.
Como seria a arquitetura das nossas cidades se os índios e os negros não tivessem sido excluídos dessa construção? Será que nossas igrejas seriam barrocas? Nossos prédios públicos neoclássicos? Provavelmente não.
Dito tudo isso, o pensamento decolonial busca reverter essa lógica eurocêntrica enraizada em nosso inconsciente em prol da valorização daquilo que é nosso.
O Brasil é colorido, vibrante e seu povo alegre, divertido. A cultura brasileira está em uma cadeira plástica de bar e um prato duralex que todo mundo reconhece. Por que, no nosso inconsciente, achamos isso feio? Por que queremos replicar lugares sóbrios, frios, minimalistas que em nada tem a ver com o lugar que vivemos?
E há um grande movimento emergente nesse sentido, da valorização da brasilidade, com marcas globais fazendo campanhas imersas na nossa cultura, como falamos no Talks #17 e ouvimos bastante no Gramado Summit. Há, inclusive, agências especializadas em cultura brasileira surgindo nesse movimento, como a Badauê e inclusive ganhando prêmios importantes de design, como a Arado.
(Vou fazer um parênteses aqui pra essa trend de ‘filho na europa vs filho no Brasil?’ KKKKK vídeos divertidos que ilustram de maneira muito clara o contraste que existe do dia a dia brasileiro para a realidade europeia.)
Será que não está na hora de nós, arquitetos, olharmos com mais cuidado para essa cultura? Nos aproximarmos da população brasileira, das nossas raízes ao invés de buscar um padrão europeu que não nos pertence?
Por que enxergamos a arquitetura das nossas raízes como arquitetura vernacular? Quase uma arquitetura temática encontrada somente em resorts do nordeste?
E veja bem, não estamos falando que a estética minimalista, brutalista ou qualquer outra seja ruim, até porque gostamos e utilizamos muito. Apenas queremos gerar uma reflexão sobre como podemos incorporar essa brasilidade no nosso trabalho. Inclusive como uma forma de aproximar a nossa profissão das pessoas.
Quem nunca percebeu a diferença no gosto pessoal pro gosto de seus familiares, leigos no assunto?
Por fim, deixamos aqui um ótimo exemplo de um escritório que faz projetos de interiores com essa visão: a Gigi Barreto, da Casa Vida Cenário. Basta uma olhada no feed para entender o que queremos dizer: cores, estampas, valorização do artesanal, tropicalidade, garimpo… Tudo isso trabalhado de maneira contemporânea, criando ambientes super afetivos e confortáveis.
##Nossa primeira palestra presencial
Não podemos deixar de registrar e agradecer aqui todos que foram nos prestigiar nas palestras que fomos convidadas a dar na semana acadêmica da universidade Unisinos, que foi nossa casa por tantos anos!
Ficamos muito honradas com o convite e foi incrível falar um pouco da história da LEIVA e de como vemos a arquitetura pra duas plateias tão participativas. Adoramos e já estamos prontas para a próxima!
##Falando em brasilidade
O Brasil ganhou o Leão de Ouro de melhor participação nacional na Bienal de Arquitetura de Veneza 2023, com uma exposição de olhar decolonial que tem como fio condutor o elemento terra. Valorizando os saberes de quilombolas e indígenas, a exposição traz uma reflexão de como podemos aliar esse material ancestral a novas tecnologias para construir em harmonia com o meio ambiente.
Quanta memória afetiva desbloqueada lendo essa talks! Muito interessante <3