Mudanças climáticas e a arquitetura #33
o que podemos fazer para amenizar os efeitos do aquecimento global?
previously on Talks by LEIVA…
Quanto custa uma obra? | Talks by LEIVA #32
(para falar conosco, responda esse e-mail ou escreva para contato@leivaarq.com)
O sul do país enfrentando uma enchente atrás da outra, o norte sofrendo com uma seca histórica e o restante do país enfrentando calor extremo… É impossível negar os efeitos do aquecimento global, mesmo sabendo que o El Niño tem grande “responsabilidade” sobre o que está acontecendo.
Qual o nosso papel como arquitetos frente a isso? Como podemos ajudar a melhorar o planeta e proporcionar uma vida mais confortável para as pessoas nesses climas extremos?
Acreditamos que a maneira mais básica de fazermos isso como arquitetos é através de estratégias passivas, uma arquitetura intimamente ligada aos recursos naturais disponíveis, fazendo o melhor aproveitamento do sol e dos ventos para gerar conforto, e da topografia e do contexto que está inserido para gerar economia.
Cada projeto deve se adaptar ao clima que está inserido.
Aqui também é importante refletirmos o papel do mercado imobiliário, pois apesar de usarem muito nos últimos anos palavras como sustentabilidade e biofilia, podemos ver claramente que na maioria das vezes são usadas de forma comercial e jogada de marketing, para impulsionar vendas e não necessariamente colocada em prática nos empreendimentos.
Projetos que não respeitam o entorno, a cultura local, as características de clima e topografia e são feitos com o puro propósito de lucrar, inclusive e principalmente em empreendimentos de alto/altíssimo padrão.
Por outro lado, quando estamos falando de classe média/baixa, que inclusive sofrem mais com essas situações climáticas extremas, a visão do mercado imobiliário é outra.
A criação de políticas públicas para que as moradias de baixa renda sejam projetadas com esses princípios sustentáveis deveria ser mais incentivada, assim, quem sabe, pararíamos com as “caixas” padrões que visam somente acomodar o maior número possível de apartamentos, como vimos por anos e anos - e vemos até hoje - as construtoras fazendo através do Minha Casa Minha Vida.
Um projeto bem pensado, por mínima que seja sua metragem, pode e deve proporcionar conforto para as pessoas.
Simples estratégias de projeto podem resolver vários problemas de conforto térmico, sem acarretar necessariamente em mais custos na construção. Como vamos demonstrar na prática abaixo:
Portas sanfonadas com venezianas móveis - Quando abertas possibilitam a passagem de vento em dias quentes e no inverno, mantém o espaço aquecido;
Aquecimento solar passivo - A laje absorve calor durante o dia através da exposição ao sol, já a noite esse calor é transferido para dentro do ambiente;
Recolhimento da água da chuva
Ventilação cruzada - Quando posicionamos aberturas em sentidos opostos, temos a possibilidade de renovar o ar do ambiente, evitando mofo, umidade e proporcionando espaços mais arejados em dias muito quentes;
Fonte de calor - Por se tratar de uma cidade fria, localizada na serra gaúcha, é importante termos uma fonte de calor, neste caso uma lareira posicionada em um ponto central do ambiente, permite aquecê-lo em dias de frio severo;
Janelas altas - Falando um pouco de física, sabemos que o ar quente sobe, uma vez que posicionamos aberturas mais altas, permitimos a saída do ar quente dos espaços, minimizando a sensação de abafamento interno dos ambientes;
Tela Solar Retrátil - Permite flexibilidade e evita a entrada de calor ou frio extremo no ambiente;
Amplo Beiral - Além de protegerem as paredes e esquadrias da ação da chuva, se bem dimensionados, permitem a entrada do sol no inverno e barram sua incidência no verão.
Além de todas essas estratégias implantadas em uma única edificação, ainda podemos citar a relação da edificação com o chão, uma edificação elevada do solo evita a ascensão de umidade, enquanto uma edificação semienterrada em contato com a terra causa inércia na troca térmica…
Nenhuma dessas estratégias está relacionada a custos e sim a um bom projeto. A prova viva que sempre usamos de exemplo é a nossa xódo: a Casa Morro da Manteiga, com 75m², que foi feita com recursos de financiamento Minha Casa Minha Vida e proporciona conforto pleno aos moradores e conexão com espaços verdes, melhorando a qualidade de vida.