Como as cores da Grécia antiga influenciam na nossa arquitetura hoje? | Talks by LEIVA #29
Uma reflexão sobre cores, mas especialmente, sobre como somos engolidos pela história sem nem saber
previously on Talks by LEIVA…
O curso de arquitetura é suficiente? | Talks by LEIVA #28
(para falar conosco, responda esse e-mail ou escreva para contato@leivaarq.com)
Eu sei que muitos meses atrás já falamos por aqui sobre o uso de cores nos ambientes e como isso está, aos poucos, mudando nos últimos anos, mas recentemente, rolando a home do twitter me deparei com essa imagem:
E não posso negar o choque que levei. Eu, no alto da minha ignorância, nunca havia ouvido falar que os templos, as cidades e as estátuas gregas eram, originalmente, cheios de cores. O mármore branco, a pedra em tons de bege e a paleta monocromática que temos em nosso imaginário e até hoje é retratada em filmes e jogos é, na verdade, uma ilusão.
Uma ilusão, que descobri eu, de novo, no alto da minha ignorância, foi provocada pelo movimento renascentista. Nessa época, as ruínas da arquitetura clássica havia sido descobertas e quando encontradas, cerca de 2 mil anos depois de sua construção, já havia perdido todas as suas cores.
Como o objetivo do renascentismo era se desvincular da igreja, a paleta monocromática servia perfeitamente a esse propósito, já que toda a arte sacra era colorida. E então, esse movimento associou a sobriedade e a sofisticação do ‘mármore branco’ ao homem moderno europeu.
E então, o uso de cores, por muito tempo a partir dai, foi associado a sociedades folclóricas, servindo ao racismo e ao preconceito com todos os povos. O arquiteto austríaco Adolf Loos, influente teórico da arquitetura moderna chegou a comparar o uso da cor a um crime:
Loos chegou ao ponto de associar um senso de "imoralidade" ao ornamento, descrevendo-o como "degenerado". Na opinião de Loos é necessário suprimir a cor e a ornamentação para que uma sociedade seja definida como moderna.
E foi assim, dentro desse imaginário e ignorando a cor usada na cultura clássica, que grande parte dos prédios públicos da Europa, e mais tarde dos Estados Unidos, foram construídos.
Nós arquitetos, sabemos bem que até hoje (três séculos depois!!) utilizamos a ausência de cores com mesma percepção: achamos que assim os projetos ficam sóbrios, atemporais e modernos. O modernismo e mais recentemente o minimalismo, nos fizeram acreditar que uma casa, para ser elegante, precisa ter poucas cores.
Será? Fazendo um link com nosso último Talks, será que a faculdade não deveria despertar em nós esse olhar para as nossas raízes? Indígena, latino-americana? Incentivar e ensinar como podemos usar as cores a nosso favor nos projetos, despertando diferentes emoções e sensações em quem for usar a nossa arquitetura?
Para finalizar essa reflexão, não podemos deixar de citar o arquiteto mexicano Luis Barragán, que usou como poucos a cor na arquitetura, utilizando a identidade do seu povo como inspiração e angariando o prêmio Pritzker com isso. Afinal, quem aí teria coragem de construir um estábulo para cavalos usando tons de rosa?!
chocado com o templo colorido! É a mesma sensação de imaginar o mundo todo preto e branco na época de revolução industrial, por causa do cinema e fotografias antigas... No automático a gente nem questiona e só absorve... Ótima news!!